Pequeno Resumo - Marx - Ideologia Alemã - Alguns ponto importantes





Para Hegel, o sujeito da história é a razão universal e os homens, suas consciências, o meio através do qual a razão se manifesta e realiza seu objetivo final, que é a liberdade. A liberdade se torna possível mediante a figura do Estado; o Estado é a realização da liberdade. Os conceitos, as idéias dominantes de cada época são os estágios da consciência na descoberta e realização de si. 
Para Marx acontece o inverso. Como é possível perceber no trecho que segue, os homens produzem a sua realidade, ainda que não compreendam exatamente como e em que direção. É através de sua realidade material, de suas necessidades para a existência, do modo de produção em que satisfazem essas necessidades e os condicionamentos sociais a que estão sujeitos independentemente de sua vontade, de que se deve partir para compreender o curso da história.
p. 93 -94 – Ideologia Alemã.
“ O fato é, portanto, o seguinte: indivíduos determinados ( em determinadas relações de produção), que são ativos na produção de determinada maneira, contraem entre si estas relações sociais e políticas determinadas. A observação empírica tem de provar, em cada caso particularmente, empiricamente e sem nenhum tipo de mistificação ou especulação, a conexão entre a estrutura social e política e a produção. A estrutura social do Estado provêm constantemente do processo de vida de indivíduos determinados, mas desses indivíduos não como podem aparecer na imaginação própria ou alheia, mas sim tal como realmente são, quer dizer, tal como suas atividades sob determinados limites, pressupostos e condições materiais, independentes de seu arbítrio.
A produção de idéias, de representações, da consciência, está, em princípio, imediatamente entrelaçada com a atividade matéria e com o intercâmbio material dos homens, com a linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens ainda aparecem, aqui, como emanação direta de seu comportamento material. O mesmo vale para a produção espiritual, tal como ela se apresenta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc. de um povo. Os homens são os produtores de suas representações, de suas idéias e assim por diante, mas os homens reais, tal como são condicionados por um determinado desenvolvimento de forças produtivas e pelo intercambio que a ele corresponde, até chegar às suas formações mais desenvolvidas. A consciência nunca pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. Se em toda ideologia, os homens e suas relações aparecem de cabeça pra baixo como numa câmara escura, este fenômeno resulta do processo histórico de vida, da mesma forma como a inversão dos objetos da retina resulta de seu processo de vida imediatamente físico.
Totalmente ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu à terra, aqui se eleva da terra ao céu. Quer dizer, não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam, tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí, chegar aos homens de carne e osso; parte-se dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos desse processo de vida... Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência.

Sociedade civil: forma de intercâmbio, condicionada pelas forças de produção existentes em todos os estágios históricos precedentes e que, por seu turno, as condiciona. – pg. 39 – Ideologia Alemã.
Tecendo uma críticas aos demais jovens hegelianos, Bruno Bauer, e Feuerbach, Marx diz que a libertação é um ato histórico e não um ato do pensamento, e é ocasionada por condições históricas, pelas condições da indústria, do comércio, da agricultura, do intercâmbio.
Portanto propõe mesmo revolucionar o mundo, pois a crítica já havia feito seu papel.
Reconhece o passo dado por Feuerbach em perceber o homem como um sujeito sensível, mas na medida em que pensa a libertação dele mediante a consciência dos indivíduos das contradições e alienação, não percebe que a vida real dos indivíduos está para além de sua consciência e que é preciso revolucionar a realidade e superar a luta de classes e a alienação dos homens.
Isto é. A filosofia de Feuerbach pára na crítica. Ele vê a libertação do homem como um processo do pensamento, de contemplação, não como uma ação prática na realidade.

A divisão do Trabalho:
Como dito na página 35 de a Ideologia Alemã, a consciência é antes de tudo a mera consciência do meio sensível e mais imediato e consciência do vínculo limitado com as outras pessoas e coisas exteriores ao indivíduo que se torna consciente. Ela é também a consciência da natureza que se apresenta ao homens como um poder totalmente estranho, onipotente e inabalável. Neste estágio “primitivo” da consciência, consciência tribal, a consciência toma o lugar do instinto, ou melhor dizendo,  os indivíduos possuem um instinto consciente.
Com o aumento da produtividade essa consciência tribal se desenvolve e se aperfeiçoa. Com isso, desenvolve-se a divisão do trabalho originalmente limitada à divisão sexual do trabalho. Torna-se realmente relevante a partir do momento em que surge uma divisão entre trabalho material e espiritual. A partir desse momento, a consciência pode realmente imaginar ser outra coisa diferente da consciência da práxis existente – a partir de então, a consciência está em condições de emancipar-se do mundo e lançar-se à construção da teoria, da teologia, da filosofia, da moral etc “puras”.
Com a divisão do trabalho está dada a possibilidade e até a realidade de que as atividades espiritual e material – de que a fruição e o trabalho, a produção e o consumo – caibam a indivíduos diferentes e a possibilidade que esses momentos não entrem em contradição reside somente em que a divisão do trabalho seja novamente suprassumida.
Isto é, com a divisão do trabalho espiritual e material se torna possível que o indivíduo que produz se aliene daquilo de seu produto, que não se reconheça mais daquilo que produz, que é desfrutado por quem não o produz. Como dito no Manifesto Comunista, o trabalho, que é elevado a grande importância pelos idealistas; o trabalho, que é o motor do desenvolvimento histórico, gera um valor e uma riqueza que não é usufruída por aqueles que trabalham. Tendo o produto de seu trabalho usurpado pela burguesia.
Suprassumir – Ao conter os sentidos de suprassumir, guardar e elevar, este conceito permite designar um dos traços essenciais da proposta filosófica de Hegel, e assim de Marx, a saber, a instituição de um sistemático discurso em movimento. Isso aparece , por exemplo, no modo de desenvolvimento próprio da consciência em cada uma das etapas nas quais a consciência avança em seu processo  de autoconhecimento. Os ensinamentos do momento anterior são ultrapassados, mas também conservados, na medida em que são vistos de um ponto mais alto. Os sentidos de supressão, conservação e elevação estão assim presentes conjuntamente; negatividade positividade e progresso são reunidos em um só processo ( Fonte: Internet) -> Tese, Antítese e Síntese.

Com a Divisão do trabalho, na qual todas essas contradições ( que por sua vez se baseia na divisão natural do trabalho na família e na separação em diversas famílias opostas umas as outras) estão dadas ao mesmo tempo a distribuição e mais precisamente a distribuição desigual, tanto qualitativa quanto quantitativamente, do trabalho e de seus produtos.
Além disso, com ela dá-se ao mesmo tempo a contradição entre o interesse particular e o interesse coletivo. É precisamente dessa contradição do interesse particular com o interesse coletivo que o interesse coletivo assume, como Estado, uma forma autônoma, separada dos reais interesses singulares e gerais. (p. 36-37)
A concepção histórica de Marx e Engels consiste em desenvolver o processo real de produção (Cada fase de desenvolvimento das forças de produção serve de base à dominação de uma determinada classe da sociedade) a partir da produção material da vida imediata e em conceber a forma de intercambio conectada a esse modo de produção e por ele engendrada, quer dizer, a sociedade civil, em seus diferentes estágios, como o fundamento de toda a história, tanto a apresentando em sua ação como Estado como explicando a partir dela o conjunto das diferentes criações teóricas e formas de consciência – religião, filosofia, moral, etc e em seguir o seu processo de nascimento a partir dessas criações, o que então torna possível, naturalmente, que a coisa seja apresentada em sua totalidade (assim como a ação recíproca entre esses diferentes aspectos). ( p. 42)

p. 47 As idéias da classe dominante são, em cada época, as idéias dominantes, isto é, a classe que é a força material da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produção espiritual. As idéias dominantes não são mais do que a expressão ideal das relações matérias dominantes, s]ao as relações matérias dominantes apreendidas como idéias.

Por exemplo*** Numa época e num país em que o poder monárquico, a aristocracia e a burguesia lutam entre si pela dominação, onde portanto a dominação está dividida, aparece como idéia dominante a doutrina da separação dos poderes, enunciada então como uma “lei eterna”.

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