A Filosofia da História - Hegel Cap 1, 2 e 4 da quarta parte
História
Hegel começa a definir
o que é história por uma definição que não é a sua. Podemos dizer, por hora,
uma definição ainda incompleta.
O primeiro tipo
de história que traz ao seu texto é a História
Original. Nela, a experiência é traduzida na representação, o que significa
dizer que o fato domina a representação, ou seja, “(...) o fenômeno exterior é
assim traduzido na representação interior” (p. 11).
Tais historiadores
originais traduzem os acontecimentos, feitos e situações que lhe são
observáveis em uma obra da imaginação.Por isso, o conteúdo de tais histórias
não pode ser de grande abrangência externa, o que está presente e vivo em seu
ambiente é seu material essencial: a formação do autor e do acontecimento que
ele cria para sua obra, o espírito do autor e das ações que ele relata, são
idênticos. Ele descreve aquilo do que participa – ou pelo menos vivencia. São
épocas breves, criações individuais de pessoas e acontecimentos (p. 12).
Nesses discursos, essas
pessoas exprimem as máximas de seu povo e de sua própria personalidade, a
consciência de seus relacionamentos políticos, como sua natureza ética e moral,
os princípios de suas metas e atos. O que o historiador faz falar não é a
consciência emprestada, mas o próprio caráter do orador (p. 12).
O segundo tipo de
história que Hegel apresentará é o que ele chama de História Refletida. O aspecto geral desse tipo é que há nela uma
mediação, algo que é posto na narrativa pela subjetividade do historiador. Há
ainda aspectos particulares, o que leva Hegel a dividir a História Refletida em quatro.São elas:
a.
História geral:
Uma história deste gênero, que pretende englobar longos períodos ou toda a
história universal, precisa abdicar, de fato, da apresentação individual da
realidade e reduzir-se a abstrações. Uma batalha, uma grande vitória, um
bloqueio não são mais eles próprios; são agrupados em simples determinações (p.
14).
b.
História pragmática:
Os acontecimentos são diversos; entretanto, o geral, o essencial, o conteúdo é
único. Isso anula o passado e torna o acontecimento presente. Aqui devem ser
ressaltados, principalmente, o ensino moral e as reflexões morais, auferidos
pela história. Dessa maneira, o passado é significado para o presente (p. 14).
c.
História crítica:
Não é a história em si, mas uma história da história, um julgamento das
narrativas históricas e uma investigação de sua verdade e credibilidade. Nesse
tipo de história, o historiador coloca as ideias subjetivas no lugar dos fatos
(p. 15 – 16).
d.
História Conceitual:Apesar
de empregar abstrações, constitui uma transição para a história universal
filosófica, já que assume um ponto de vista geral ( por exemplo: Historia da arte, do direito, da religião ) –
reflete a alma interior que dirige os acontecimentos. A idéia é o que conduz os
povos e o mundo é o espírito, sua vontade mais racional e mais necessária, que
dirigiu e dirige os acontecimentos mundiais (p. 16).
Hegel descreve esses
tipos de narrativas dos acontecimentos e ações no sentido de dizer que essas
maneiras de apresentar a história não são e são história, pois o autor entende
que há “(...) um fio condutor (...) uma alma interior que dirige os acontecimentos
e ações” (p. 16).
Nesse sentido,
entendemos que esses tipos de narrativas de acontecimentos e ações são
história, pois revelam aspectos dessa alma interior, mas não são a história
filosófica, pois falta a elesevidenciar
o movimento da ideia como produtor da história universal. Por isso Hegel
afirma: “(...) a filosofia da história nada mais significa do que a sua
observação refletida” (p. 16).
O que Hegel parece
pretender com sua Filosofia da História é refutar a separação entre matéria e
forma, entre o concreto e o universal, ou a história
como um conjunto de acontecimentos e ações e a filosofia como especulação independente dos fatos.Isso porque, em
Hegel, não há a separação entre objetivo e subjetivo, há a unidade como universalidade, como Espírito. Devemos então proceder com a
história como ela é, empiricamente (p. 18) e a filosofia seria essa perspectiva
da universalidade como ele demonstrará na argumentação sobre o Estado e o
Espírito.
O
estudo da história universal[1]
resulta e deve resultar que nela tudo aconteceu racionalmente, que ela foi a
marcha racional e necessária do espírito universal (p. 18).Explicar a história
significa descobrir as paixões do homem, seu gênio, suas forças
atuantes.Somente Sócrates havia dado o primeiro passo para compreender a união
do concreto e do universal.Na história universal, lidamos com indivíduos, que
formam povos, e com totalidade, que são os Estados. O espírito é aquele que
conduz à verdade e conhece todas as coisas, penetrando no âmago da divindade
(p. 19 -20).
Assim,
a Filosofia da História é a
perspectiva filosófica apresentando as ações e acontecimentos como resultado da
Ideia, da “(...)razão, da qual se disse que rege o mundo, é, igualmente, uma
palavra tão indeterminada como a Providência; fala-se sempre da razão, mesmo
sem poder indicar qual é a sua determinação, o seu conteúdo, segundo quais
princípios podemos julgá-la, se algo é racional, se algo é irracional. A razão,
compreendida em sua determinação, é o objeto de que tratamos aqui: o restante, se
quisermos permanecer ainda na razão, são apenas palavras (...)” (p. 21).
Espírito
Para Hegel, o Espírito
é o Absoluto. Por Absoluto se entende aquilo que tem em si mesmo a razão de
ser, que é independente de todo o resto, que é livre de constrangimentos e
contingências; que é em si e para si. Hegel utiliza como sinônimo de Espírito
termos como Razão, Ideia, Deus, Racionalidade; ou seja, Espírito deve ser
entendido como o logos do real, e não em um sentido místico.
A história universal
situa-se no campo espiritual. O mundo compreende a natureza física e
espiritual: a natureza física intervém na história universal, porém, o espírito
e o percurso de seu desenvolvimento são o substancial dessa história. (pág. 23)
Hegel indica três questões
relacionadas ao Espírito na história universal: determinações abstratas da
natureza do espírito; os meios de que precisa o espírito para realizar a sua ideia;
ea realização completa do espírito na existência: o Estado.
(pág. 23)
1) Os elementos
abstratos da natureza do espírito: por determinação abstrata Hegel compreende a
natureza do espírito isolada de sua existência concreta, de sua realização na
história universal; apenas o geral. Para Hegel, a essência do espírito é a
liberdade. A liberdade é a única verdade do espírito. “Concebemos a matéria
como pesada, desde que tenda para um ponto central: ela é essencialmente
composta, existe de forma particular, procura a sua unidade e, portanto,
procura superar-se a si mesma buscando também seu contrário. Se ela o
alcançasse, não seria mais matéria, teria desaparecido; ela tende à idealidade,
pois na unidade, ela é ideal. O espírito, ao contrário, é exatamente aquilo que
contém o ponto central: ele não possui a unidade fora de si, ele a encontrou.
Ele é em si mesmo e por si mesmo. A
matéria tem a substância fora de si; o espírito é o ser por si mesmo. E isso é
a liberdade, pois quando sou dependente, então relaciono-me a um outro que não
sou eu, eu não posso existir sem um exterior; eu sou livre quando estou em mim
mesmo. Esse “estar em si mesmo” do espírito é a autoconsciência, a consciência
de si mesmo.” (pág. 24)
A determinação abstrata
do espírito se representa na história universal “no esforço de elaborar o
conhecimento de que ele é em si mesmo.”O espírito já contém, virtualmente, toda
a história, assim “como a semente carrega em si toda a natureza da árvore, o
sabor e a forma dos frutos”(Pág. 24); mas ele precisa se realizar. A “aplicação
do princípio [da liberdade, essência do espírito] aos assuntos do mundo, a
atuação e a penetração dele na condição profana, eis o longo processo que
constitui a própria história.” Por isso, “a história universal é o progresso na
consciência da liberdade.” (pág. 25)
A liberdade em si mesma
é o fim que ela tende e a única finalidade do espírito. “Na história universal
tudo convergiu para esse objetivo final. É o único fim que se realiza e se
cumpre, o único permanente na trama mutável de todos os acontecimentos e
circunstancias, bem como a força verdadeiramente atuante. Esse objetivo final é
aquilo que Deus quer do mundo, porém Deus é a perfeição, e por isso não pode
querer nada além de si mesmo, sua própria vontade. Quanto à natureza de sua
vontade, ou seja, a sua própria natureza é o que denominamos aqui de liberdade,
apreendendo por meio do pensamento a representação religiosa.” (pág. 25)
2) Os meios da
realização de sua ideia: os meios pelo qual a liberdade se produz no mundo nos
conduz à manifestações da própria história. A liberdade é o conceito interior. Os
meios são, ao contrário, algo exterior, o fenômeno que surge aos olhos,
apresentando-se, imediatamente, na história. (pág. 26)
Os elementos abstratos
do espírito (a liberdade como essência), ainda são apenas o espírito em si, e,
portanto, uma possibilidade. Assim Hegel adverte que “o que denominamos
princípio, fim, determinação ou ainda natureza e conceito do espírito é apenas
o geral, o abstrato. Princípio, como também fundamento e lei, é algo interior
que, como tal, mesmo que nele seja verdadeiro, não o é completamente. Fins,
fundamentos, etc. estão em nossos pensamentos, em nossas intenções, mas não na
realidade ainda. O que é em si é uma possibilidade, uma capacidade, que de seu
interior ainda não atingiu a existência.” (pág. 27)
Para se realizar, a
determinação abstrata do espírito necessita de meios: “Tem que advir um segundo
momento para realizar-se”. E, por meios, Hegel entende a atividade humana, a
necessidade, o instinto, a tendência e a paixão do ser humano:“esse [segundo]
momento é a atividade, a realização, cujo princípio é a vontade, a própria
atividade humana. Apenas por meio dessa atividade é que esse conceito e as suas
próprias determinações serão concretizadas, pois eles não vigoram diretamente
por si mesmos.” (pág. 27)
Não há “dissociação”
entre objetivo geral (abstrato) do espírito e objetivo particular das paixões
humanas, pois “nada de grande acontece no mundo sem paixão”. A atividade humana
sempre está empenhada em interesses particulares, de fins especiais ou de
intenções egoístas, pois “o indivíduo é um ser que está aí, não como um homem
em si, pois esse não existe, mas como um ser determinado”. Hegel relaciona
assim interesses particulares e realização do espírito: “São dois os momentos
que intervêm no nosso objetivo: o primeiro é a idéia, o segundo, as paixões
humanas; um é a urdidura do tecido, o outro, a trama do grande tapete da
história universal que se desenrola perante nós. O centro concreto de ambos é a
liberdade moral no Estado.” (pág. 28)
E sintetizando essa
relação dos meios com os fins, Hegel escreve que “A história universal começa
com o objetivo geral de que o conceito do espírito seja satisfeito em si, quer
dizer, como natureza; ele é o instinto inconsciente interior mais profundo e
todo o trabalho da historia universal é trazê-lo à consciência. Assim, na
formação do ser natural, da vontade natural, existe o que foi chamado de lado
subjetivo, ou seja, a necessidade, o instinto, a paixão, o interesse
particular, tal como a opinião e a representação subjetiva. Essa imensa
quantidade de vontade, interesse e atividade constitui os instrumentos e os
meios do espírito universal para realizar o seu objetivo, para trazê-lo até a
consciência e para concretizá-lo. A finalidade do espírito universal é
encontrar-se, voltar-se para si mesmo e encarar-se como realidade.” (pág. 29)
O universal está unido
ao individual e subjetivo. Mesmo que não exista consciência, “o universal está
nos fins particulares e realiza-se por intermédio deles.” Essa ligação é
realizada pela atividade. “A atividade situa-se entre dois extremos: entre o
geral, a idéia que repousa no interior do espírito, e a exterioridade, a
matéria concreta. A atividade é o intermediário que traduz o geral, o interior,
para a objetividade.”
Hegel, para demonstrar
a relações entre interesses particulares e gerais, apresenta o exemplo da casa.
Em sua construção é utilizado o fogo, o ar e a água; mas o produto final, a
casa, tem como objetivo limitar a ação desses elementos. “Da mesma forma, as
paixões são satisfeitas guiando a si mesmas e seus objetivos, segundo sua
determinação natural, construindo o edifício da sociedade humana, onde essas
paixões autorizam o direito e a ordem a atuarem contra si mesmas.” (pág. 31)
As ações humanas
constroem na história universal algo além daquilo que intencionava. A
concretização de interesses particulares realiza objetivos mais abrangentes,
que não era vontade e consciência do autor do ato. “A substância da ação, e
consequentemente, o ato em si, volta-se contra aquele que o praticou”. (pág.
32)
Se dá, dessa maneira, a
união dos dois extremos, a realização da ideia geral em realidade imediata e a
elevação da individualidade à verdade geral.
“Os homens históricos,
os indivíduos históricos universais, são aqueles em cujos objetivos reside essa
universalidade” (pág. 32), ou seja, o valor geral. “Os grandes homens da
história são aqueles cujos fins particulares contêm o substancial que é a
vontade o espírito universal”.“Por intermédio deles todos os outros aprenderam,
apreciaram ou, pelo menos, a isso se submeteram, pois o espírito que está mais
adiante é a alma interior de todos os indivíduos, a interioridade inconsciente
que os grandes homens tornam consciente.” (pág. 33)
Hegel finaliza seus
apontamentos sobre o entrelaçamento entre interesse particular e universal
discorrendo sobre o que chama de astúcia da razão: “O interesse particular da
paixão é, portanto, inseparável da participação do universal, pois é também da
atividade do particular e de sua negação que resulta o universal. É o particular que se desgasta em conflitos,
sendo em parte destruído. Não é a ideia geral que se expõe ao perigo na
oposição e na luta. Ela se mantém intocável e ilesa na retaguarda. A isso se
deve chamar astúcia da razão: deixar que as paixões atuem por si mesmas,
manifestando-se na realidade, experimentando e sofrendo danos, pois esse é o
fenômeno no qual uma parte é nula e a outra afirmativa. O particular geralmente
é ínfimo perto do universal, os indivíduos são sacrificados e abandonados. A
ideia recompensa o tributo da existência e da transitoriedade, não por ela
própria, mas pelas paixões dos indivíduos.” (pág. 35)
Estado
Qual o material no qual
o fim absoluto é realizado? Trata-se, inicialmente, do próprio sujeito, das
necessidades humanas, da própria subjetividade. No saber e querer humanos, como
no material, o racional manifesta-se na existência. Nas palavras de Hegel: “A
vontade subjetiva e a paixão são os fatores que atuam, que realizam. A ideia é
o interior. O Estado é o que existe, é a vida real é a ética, pois ele é a
unidade do querer universal, essencial, e do querer subjetivo – e isso é a
moralidade objetiva (...)” (p. 39).
Este todo moral, o
Estado, é a realidade na qual o indivíduo tem e desfruta de sua liberdade, como
saber, crença e vontade universal. Dessa forma, o Estado é a realização da
liberdade, isto é, da finalidade absoluta, é onde a realidade espiritual dos
homens se realiza.
A realidade espiritual
consiste em que seu ser, o racional, seja objetivo para ele que sabe, que tenha
para ele existência objetiva e imediata, só assim o homem é consciência, só
assim ele está na eticidade, na vida legal e moral do Estado, pois o verdadeiro
é a unidade da vontade universal e subjetiva. No estado o universal está nas
leis e determinações gerais e racionais. A lei é a objetividade do espírito e
da vontade em sua verdade e só a vontade que obedece a lei é livre, pois ela
obedece a si mesa, está em si mesa livremente (p. 40).
Dessa maneira, o Estado
é uma abstração que tem a sua própria atividade universal nos cidadãos, mas ele
existe de fato, e só por intermédio da vontade e da atividade individual a
existência universal se define. Só pela constituição é que o abstrato do Estado
se torna vivo e real.O Estado deve ter força e poder como realidade, como
unidade individual (p. 43).
Qual a melhor
constituição? Por meio de qual diretriz, organização ou mecanismo do poder
estatal deve ser alcançado de forma mais segura o fim do Estado?Esse fim pode
ser concebido de diversos modos: como um tranquilo fruir da vida burguesa ou
como um bem-estar geral. Tais fins produziram as constituições ditas ideais.A
determinação da liberdade – que serve de base, mas é tida como abstrata – tem
como conseqüência o fato de que, na teoria geralmente a república vale como a
constituição única, justa e verídica. Nem mesmo os que ocupam, nas
constituições monárquicas, altos cargos da administração estatal contestam tal
opinião, afeiçoando-se a ela. Eles admitem, entretanto, que tal constituição
não poderia, na realidade, ser introduzida por toda a parte, pois do jeito que
os homens são, seria preciso que todos se contentassem com menos liberdade, a
tal ponto que a constituição monárquica seria mais útil nessas circunstâncias,
segundo a condição moral do povo (p. 43).
E uma constituição é
importante a formação de uma situação racional. O Estado é a liberdade
racional, que se sabe objetiva e que existe para si mesma.A objetividade da
liberdade consiste em que os seus momentos não sejam ideais, mas existam em uma
realidade particular.O Estado é a idéia moral exteriorizada na vontade humana e
liberdade desta. Por isso, a alteração da história pertence essencialmente a
ele (p. 45).
.
Fichamento
Página Cap
1 – História Original
11. Se trata de uma transferência para o campo da
imagem intelectual. Exemplo – Hérodo, Tucídes e outros historiadores. O
fenômeno exterior é traduzido na representação interior.
12. Tais historiadores originais traduzem os
acontecimentos, feitos e situações que lhe são observáveis em uma obra de
imaginação.
Por isso o conteúdo de tais histórias não pode ser de grande
abrangência externa, o que está presente e vivo em seu ambiente é seu material
essencial: a formação do autor e do acontecimento que ele cri9a para sua obra,
o espírito do autor e das ações que ele relata, são idênticos. Ele descreve
aquilo do que participa – ou pelo menos vivencia. São épocas breves, criações
individuais de pessoas e acontecimentos. Soa traços irrefletidos, isolados.
Nesses discursos, essas pessoas exprimem as máximas de seu
povo e de sua própria personalidade, a consciência de seus relacionamentos
políticos, como sua natureza ética e moral, os princípios de suas metas e atos.
O que o historiador faz falar não é a consciência emprestada, mas o próprio
caráter do orador.
Historia Refletida
13. É
a história cuja apresentação ultrapassa o presente, não com relação ao tempo,
mas ao espírito.
Tipos
14.
História geral: Uma história deste gênero, que pretende englobar longos
períodos ou toda a história universal, precisa abdicar, de fato, da
apresentação individual da realidade e reduzir-se a abstrações. Uma batalha,
uma grande vitória, um bloqueio não são mais eles próprios; são agrupados em
simples determinações.
História
pragmática: Os
acontecimentos são diversos; entretanto, o geral, o essencial, o conteúdo é
único. Isso anula o passado e torna o acontecimento presente. Aqui devem ser
ressaltados, principalmente, o ensino moral e as reflexões morais, auferidos
pela história...
15.
Exemplos do bem enaltecem a alma e devem ser utilizados na formação moral das
crianças para lhes incutir o que é excelente. Somente uma observação metódica,
livre e abrangente das situações e do profundo sentido da idéia (cita
Montesquieu) proporciona autenticidade às reflexões.
História
crítica: Não é a
história em si, mas uma história da história, um julgamento das narrativas
históricas e uma investigação de sua verdade e credibilidade -> dissertações
críticas.
16.
História Conceitual: Apesar de empregar abstrações, constitui uma
transição para a história universal filosófica, já que assume um ponto de vista
geral ( por exemplo: Historia da arte,
do direito, da religião ) – reflete a alma interior que dirige os
acontecimentos... A idéia é o que conduz os povos e o mundo é o espírito, sua
vontade mais racional e mais necessária, que dirigiu e dirige os acontecimentos
mundiais.
História Filosófica
A filosofia da história nada mais significa do que sua
observação refletida. Na história, o pensar está subordinado ao real existente,
tendo-o por fundamento e por guia.
17. A história deve apenas considerar o que é e o
que foi, acontecimentos e ações. A história é tanto mais verídica quanto mais
se estiver ao dado, o que faz parecer estar em contradição com a atividade
filosófica.
A história universal é também um processo racional.
Mediante o conhecimento especulativo comprova-se que a
razão, a substância como força infinita, é em si mesma a matéria infinita de
toda forma de vida natural e espiritual, e também a forma infinita a realização
de seu próprio conteúdo. A substância é, pois, aquilo através do qual e no qual
toda realidade tem o seu ser e sua existência... A própria matéria que ele fornece
à elaboração e sua própria atividade é ela mesma. Ela se nutre de si mesma.
18. O estudo da história universal resulta e deve
resultar que nela tudo aconteceu racionalmente, que ela foi a marcha racional e
necessária do espírito universal.
19. Chamo a atenção, desde o início, para essa
distinção entre se estabelecer uma definição, um princípio, ou uma verdade de
modo meramente abstrato, ou evoluir para uma determinação mais precisa e um
desenvolvimento concreto.
Outro ponto é que essa manifestação do pensamento de que a
razão governa o mundo, esta ligada a outra aplicação, que conhecemos na forma
religiosa: A Providência divina -> sabedoria que, com um poder infinito,
concretiza os seus objetivos. A razão é o pensar livre e determinante de si mesmo.
20. Explicar a história significa descobrir as
paixões do homem, seu gênio, suas forças atuantes.
Somente Sócrates havia dado o primeiro passo para
compreender a união do concreto e do universal.
Na história universal, lidamos com indivíduos, que formam
povos, e com totalidade, que são os Estados. Portanto não podemos nos ater a
miudezas da crença na Providencia, e menos ainda à crença abstrata e
indeterminada, que apenas quer generalizar, ou seja, supor que existe uma
Providência, mas não os fatos determinantes da mesma.
O espírito é aquele que conduz à verdade e conhece todas as
coisas, penetrando no âmago da divindade.
21. Foi nos imposto (pela revelação do Deus
cristão) o dever de reconhecê-lo. Ele não quer ter almas mesquinhas e cabeças
vazias como seus filhos, mas sim aqueles cujo espírito próprio, embora pobre, é
rico por seu conhecimento, bem como os que consideram esse conhecimento como o
único valor.
Já é tempo de compreender, também, a rica produção da razão
criadora que é a história universal.
Essa conciliação só pode ser alcançada pelo conhecimento do
afirmativo, no qual desaparece o negativo, tornando-se este subordinado e
superado pela consciência, em parte o que é o objetivo final do mundo.
A razão, da qual se disse que rege o mundo é, igualmente,
uma palavra tão indeterminada como a Providência; fala-se sempre da razão,
mesmo sem poder indicar qual é a sua determinação, o seu conteúdo, segundo
quais princípios podemos julgá-la, se algo racional, se é irracional. A razão
compreendida em sua determinação, é objeto de que tratamos aqui: o restante, se
quisermos permanecer ainda na razão, são apenas palavras.
Cap 2 -
Determinação Detalhada desse Princípio
23. A história universal situa-se no campo
espiritual – determinações abstratas da natureza do espírito; de que meios
precisa o espírito para realizar a sua idéia; - e, finalmente; é necessário
observar a forma que é a realização completa do espírito na existência: o Estado.
A essência do espírito é a liberdade.
24. A liberdade é a única verdade do espírito.
O espírito é em si mesmo e por si mesmo. E isso é a
liberdade, pois quando seu dependente, então relaciono-me a um outro que não
sou eu, eu não posso existir sem um exterior; eu sou livre quando estou em mim
mesmo, Esse “estar em si mesmo” do espírito é a autoconsciência, a consciência
de si mesmo.
Conforme essa determinação abstrata, pode-se dizer que a
história universal é a representação do espírito no esforço de elaborar o
conhecimento de que ele é em si mesmo. E, como a semente carrega em si toda a
natureza da árvore, o sabor e a forma dos frutos, assim os primeiros traços do
espírito já contêm também, virtualmente, toda a história.
Os orientais não sabem que o espírito é livre em si mesmo; e
por não o saberem, não o são.
A liberdade do espírito constitui a sua natureza mais
intrínseca.
25. A história universal é o progresso na
consciência da liberdade.
Como determinação do mundo espiritual pela qual ele é o
mundo substancial, o mundo físico a ele subordinado, em termos especulativos,
não tem nenhuma verdade em relação ao primeiro, a não ser como causa final do
mundo, consciência do espírito de sua liberdade e, igualmente, realidade de sua
liberdade.
Ao mesmo tempo, a liberdade em si mesma, que encerra a
infinita necessidade de se tornar consciente – pois ela é, segundo seu
conceito, o conhecimento em si -, é o fim que ela tende e a única finalidade do
espírito. Na história universal tudo convergiu para esse objetivo final... É o
único fim que se realiza e se cumpre, o único permanente na trama mutável de
todos os acontecimentos e circunstancias, bem como a força verdadeiramente
atuante. Esse objetivo final é aquilo que Deus quer do mundo, porém Deus é a perfeição,
e por isso não pode querer nada além de si mesmo, sua própria vontade. Quanto à
natureza de sua vontade, ou seja, a sua própria natureza é o que denominamos
aqui de liberdade, apreendendo por meio do pensamento a representação
religiosa.
26. Os meios da realização de sua idéia - > Manifestações da própria história
Os Meios são algo exterior, o fenômeno que aparece aos
olhos, apresentando-se imediatamente na história. As paixões, ao contrario, os
objetivos do interesse particular e a satisfação do egoísmo são fatores mais
poderosos (que a virtude, que o amor à pátria, que um bem-querer); seu poder
está em não considerar nenhum dos limites que o direito e a moralidade lhe
querem impor.
27. Fins,
fundamentos, etc. estão em nossos pensamentos, em nossas intenções, mas não na
realidade ainda. O que é em si é uma possibilidade, uma capacidade, que de seu
interior ainda não atingiu a existência. Tem que advir um segundo momento para
realizar-se; esse momento é a atividade, a realização, cujo princípio é a
vontade, a própria atividade humana.
Eis o direito infinito do sujeito: encontrar satisfação em
sua própria atividade e trabalho.
28. Tem se que evitar um mal entendido: critica-se
e diz-se no mau sentido e com razão, que um indivíduo só se interessa por
aquilo que é de seu proveito particular. Se censuramos isso, achamos que ele
procura proveito próprio sem levar em consideração o objetivo geral, mas
fingindo esforçar-se por este, ou mesmo quando ele o sacrifica; porém, quem
está emprenhado em alguma coisa não está interessado apenas no geral, mas
também no particular.
Nada de grande acontece no mundo sem paixões.
São dois os momentos que intervêm no nosso objetivo: o
primeiro é a idéia, o segundo, as paixões humanas; um é a urdidura do tecido, o
outro, a trama do grande tapete da história universal que se desenrola perante
nós. O centro concreto de ambos é a liberdade moral no Estado.
29. Portanto direi paixão no sentido de
determinação particular do caráter, de modo que essas determinações do querer
não tenham somente conteúdo particular, mas constituam o atuante de ações
gerais.
Paixão é o lado subjetivo, formal, da energia, da vontade e
da atividade, no qual o conteúdo ou o objetivo ainda permanecem indeterminados.
Mas se a natureza do conteúdo é essa, urge que ele se
manifeste.
Um Estado é bem organizado re vigoroso quando seus fins
gerais se conjugam ao interesse particular dos cidadãos.
A história universal começa com o objetivo geral de que o
conceito do espírito seja satisfeito em si, quer dizer, como natureza; ele é o
instinto inconsciente interior mais profundo e todo o trabalho da historia
universal é trazê-lo à consciência.
Essa imensa quantidade de vontade, interesse e atividade
constitui os instrumentos e os meios do espírito universal para realizar o seu
objetivo, para trazê-lo até a consciência e para concretizá-lo.
30. A razão rege o mundo e também tem regido a
história universal. A razão é imanente à existência histórica e nela se
realiza.
O universal está nos fins particulares e realiza-se por
intermédio deles.
A idéia geral é por um lado a plenitude substancial e, por
outro, o abstrato do livre arbítrio.
Feliz é aquele que adaptou a sua existência ao seu caráter
particular; vontade e arbítrio, e assim desfruta de sua existência. A história
universal não é o palco da felicidade.
A atividade situa-se entre dois extremos: entre o geral, a
idéia que repousa no interior do espírito, e a exterioridade, a matéria
concreta.
31. Da mesma forma, as paixões são satisfeitas
guiando a si mesmas e seus objetivos, segundo sua determinação natural,
construindo o edifício da sociedade humana, onde essas paixões autorizam o
direito e a ordem a atuarem contra si mesmas.
32. Algo tão vazio como o bem pelo bem não se
manifesta na realidade, precisa-se saber se isso ou aquilo é o bem.
Há o conteúdo que, por ser bom, pode se apresentar no geral
como vantajoso, essencial e necessário. Essas possibilidades (que se contrapõem
a esse sistema, infringindo-o, destruindo os seus fundamentos e sua realidade)
tornam-se, pois, históricas: elas encerram um valor geral diferente daquele que
constitui a base da existência de um povo ou não nação. Esse valor geral é um
momento da verdade, aspirando a si mesma.
Os homens históricos, os indivíduos histórico universais,
são aqueles em cujos objetivos reside essa universalidade.
33. Os grandes homens da história são aqueles
cujos fins particulares contêm o substancial que é a vontade o espírito
universal. Por intermédio deles todos os outros aprenderam, apreciaram ou, pelo
menos, a isso se submeteram, pois o espírito que está mais adiante é a alma
interior de todos os indivíduos, a interioridade inconsciente que os grandes
homens tornam consciente.
34. Aliás, o homem livre não é invejoso; longe
disso, gosta de reconhecer o que é grande e sublime, e rejubila-se de que algo
assim exista.
35. O interesse particular da paixão é, portanto
inseparável da participação do universal, pois é também a atividade do
particular e de sua negação que resulta o universal. É o particular que se desgasta em conflitos, sendo
em parte destruído. Não é a idéia geral que se expõe ao perigo na oposição e na
luta... A isso se deve chamar astúcia da razão: deixar que as paixões atuem por
si mesmas, manifestando-se na realidade, experimentando e sofrendo danos, pois
esse é o fenômeno no qual uma parte é nula e a outra afirmativa.
Os indivíduos são feitos parte dessa categoria de meios.
Tratando-se da realização do fim racional pelos indivíduos,
assinalamos o lado subjetivo dos mesmos, seus interesses, suas necessidades e
instintos, suas opiniões e sua sabedoria como seu lado formal, o qual tem o
direito infinito de ser satisfeito.
36. O homem só é um fim em si mesmo por meio do
divino que reside nele, do que foi chamado no início de razão, desde que ativa
e auto determinante, ou seja, o que denominados liberdade.
Quando se trata de um fim em si e por si, o que se chama
ventura ou infortúnio deste ou daquele indivíduo particular não pode ser
tratado como momento da ordem racional do universo. Com mais justiça do que
apenas o acaso e circunstancias favoráveis aos indivíduos, exige-se do fim
universal que fins bons, morais e justos busquem por intermédio dele, e nele
sua realização e segurança.
37. Se a história parecia outrora apresentar-se
como um luta de paixões, ela se mostra em nossos tempos essencialmente sob o disfarce
de legitimações superiores.
É mais fácil enxergar os defeitos dos indivíduos, dos
Estados dos caminhos universais, do que seu valor potencial.
38. Deus governa o mundo e o conteúdo do seu
governo, a realização do seu plano, é a história universal.
39. A configuração existencial dessa realização
Qual o material no qual o fim absoluto é realizado?
Trata-se, inicialmente, do próprio sujeito, das necessidades humanas, da
própria subjetividade. No saber e querer humanos, como no material, o racional
manifesta-se na existência.
Essa vontade tem também uma vida substancial, uma realidade,
na qual ela se movimenta em substancia e tem sua própria essência como fim de
sua existência. Essa essência é a própria união da vontade subjetiva e da
razão: Isto é, o todo moral, o Estado, que é a realidade na qual o indivíduo
tem e desfruta de sua liberdade, como saber, crença e vontade universal.
A vontade subjetiva e a paixão são os fatores que atuam, que
realizam. O Estado é o que existe, é a vida real e crítica, pois é a unidade do
querer universal, essencial, e do querer subjetivo.
É preciso saber que o Estado é a realização da liberdade,
isto é, da finalidade absoluta, que ele
40. existe por si mesmo; além disso, deve-se saber
que todo valor que o homem possui, toda realidade espiritual, ele só tem
mediante o Estado.
Sua realidade espiritual consiste em que seu ser, o
racional, seja objetivo para ele que sabe, que tenha para ele existência
objetiva e imediata, só assim o homem é consciência, só assim ele está na eticidade,
na vida legal e moral do Estado, pois o verdadeiro é a unidade da vontade
universal e subjetiva. No estado o universal está nas leis e determinações
gerais e racionais. A lei é a objetividade do espírito e da vontade em sua
verdade e só a vontade que obedece a lei é livre, pois ela obedece a si mesa,
está em si mesa livremente.
41. A sociedade e o Estado impõem seguramente
restrições limitando (esses) sentimentos rudes e instintos grosseiros, como
também a arbitrariedade refletida dos caprichos e da paixão.
Os fins universais devem ser descobertos somente pela
atividade do pensamento; que se distingue da sensibilidade e se desenvolve
diversamente, integrando-se na vontade sensível, mesmo contra essa própria
vontade.
Antes de mais nada, tal limitação é pura e simplesmente a
condição da qual surge a libertação, sendo a sociedade e o Estado as condições
nas quais a liberdade se realiza.
A relação familiar serve de base ao Estado patriarca, no
qual se desenvolve conscientemente a primeira moralidade objetiva à qual se
junta depois, como segunda, o Estado. O Estado deve
42. ter o maior respeito pela família; é graças a
ela que ele tem como seus membros indivíduos, que como tal, são objetivamente
morais e que trazem para o Estado o fundamento sólido capaz de fazê-los
identificar-se com o todo.
43. O Estado é uma abstração que tem a sua própria
atividade universal nos cidadãos, mas e4le existe de fato, e só por intermédio
da vontade e da atividade individual a existência universal se define. Só pela
constituição é que o abstrato do Estado se torna vivo e real.
O Estado deve ter força e poder como realidade, como unidade
individual.
44. Qual a melhor constituição? Por meio de qual
diretriz, organização ou mecanismo do poder estatal deve ser alcançado de forma
mais segura o fim do Estado?
Esse fim pode ser concebido de diversos modos: como um
tranqüilo fruir da vida burguesa ou como um bem-estar geral. Tais fins
produziram as constituições ditas ideais.
A determinação da liberdade – que serve de base, mas é tida como
abstrata – tem como conseqüência o fato de que, na teoria geralmente a
república vale como a constituição única, justa e verídica. Nem mesmo os que
ocupam, nas constituições monárquicas, altos cargos da administração estatal
contestam tal opinião, afeiçoando-se a ela. Eles admitem, entretanto, que tal
constituição não poderia, na realidade, ser introduzida por toda a parte, pois
do jeito que os homens são, seria preciso que todos se contentassem com menos
liberdade, a tal ponto que a constituição monárquica seria mais útil nessas
circunstâncias, segundo a condição moral do povo.
45. Deve ser mostrado que a constituição de um
povo junto com sua religião, sua arte e sua filosofia, ou pelo menos, suas
representações e pensamentos – enfim, com a sua cultura em geral (para não
citar outras forças externas, tais como o clima, países vizinhos e a posição no
mundo) -, constitui uma substancia única, um espírito.
A constituição é a determinação de toda a individualidade
espiritual.
E uma constituição é importante a formação de uma situação
racional. O Estado é a liberdade racional, que se sabe objetiva e que existe
para si mesma.
A objetividade da liberdade consiste em que os seus momentos
não sejam ideais, mas existam em uma realidade particular.
O Estado é a idéia moral exteriorizada na vontade humana e
liberdade desta. Por isso, a alteração da história pertence essencialmente a
ele.
46. As constituições sob as quais os povos
históricos conseguiram a sua expansão são lhes particulares, e não apenas um
fundamento geral.
Comparando-se as constituições dos antigos povos históricos,
nada pode ser apreendido delas para o princípio último da constituição para,
por assim dizer o princípio de nossos tempos.
O antigo e o atual não possuem juntos um princípio essencial
comum.
O povo deve ser representado por deputados para a elaboração
das leis.
A liberdade, como é determinada pelo conceito, não tem por
princípio a vontade subjetiva e a arbitrariedade, mas sim o conhecimento da
vontade geral, o sistema da liberdade é o livre desenvolvimento de seus
momentos.
A vontade subjetiva é uma determinação totalmente formal,
que não contém o que a vontade quer. Só a vontade racional contém esse elemento
universal que se auto determina, se desenvolve e desdobra os seus momentos em
membros orgânicos.
47. Os dois momentos: O Primeiro; a idéia da
liberdade como fim absoluto; o segundo momento: seu meio, o lado subjetivo do
saber e do querer com sua vitalidade, ação e atividade. Reconhecemos, então, o
Estado como totalidade moral e a realidade da liberdade – a unidade objetiva
desses dois momentos.
O Estado é o fundamento e o centro dos outros lados
concretos da vida do povo: a arte, o direito, a moral, a religião e a ciência.
Quando eu sei o que quero, quero o objeto universal.
Entre as manifestações dessa união consciente a religião
está em primeiro lugar. É pelo sacrifício que o homem exprime sua renúncia à
propriedade, à vontade e aos sentimentos individuais.
A segunda manifestação no espírito é a arte. O divino deve,
por meio da arte, tornar-se intuição; ela a apresenta à fantasia e à capacidade
intuitiva.
A terceira manifestação é a filosofia; a forma mais elevada,
livre e sábia.
O princípio geral que se manifesta no Estado e torna-se um
objeto da consciência, a forma sob a qual tudo se torna real, é isso que
constitui a Cultura de uma nação. Porém, o conteúdo
48. determinado que recebe a forma de
universalidade, e que existe na realidade concreta é o Estado, é o próprio
espírito do povo. O homem precisa também conhecer esse seu espírito, a sua
própria essência, e adquirir consciência de sua unidade original, pois dissemos
que a moralidade é a unidade da vontade subjetiva e da vontade universal.
A religião é o lugar em que um povo apresenta a si próprio a
definição do que ele considera verdadeiro.
49. Os princípios do Estado devem, a rigor, ser
considerados como válidos em si e por si. Isso só será possível se esses
princípios forem considerados determinações da própria natureza divina.
O Estado, a vitalidade dele nos indivíduos, foi denominada
moralidade objetiva.
50. A totalidade temporal é uma essência, o
espírito do povo. Os indivíduos pertencem a ele; cada um é o filho de seu povo
e, igualmente, um filho do seu tempo.
O espírito do povo é determinado pelo grau de seu
desenvolvimento histórico. O espírito determinado de um povo é apenas um
individuo no decorrer da história universal.
A história universal ocupa-se apenas em mostrar como o
espírito chega, progressivamente, ao reconhecimento e à adoção da verdade:
surge o conhecimento, o espírito começa a descobrir pontos relevantes e,
finalmente, alcança a consciência total.
Capitulo
4 – Tempo Moderno – A Reforma
343.
A Reforma surge da decadência da Igreja, que desenvolveu-se a partir dela
mesma.
344.
Os contrastes dentro dela – vício rude e cobiça e, por outro lado, a nobreza da
alma que tudo sacrifica – tornaram-se ainda mais fortes pela energia que o
homem percebe em sua força subjetiva perante as coisas exteriores, na natureza,
na qual ele se conscientiza de sua liberdade e adquire assim um direito
absoluto para si. A igreja, que deve salvar as almas da decadência, transforma
essa salvação em um instrumento exterior. O perdão dos pecados é oferecido ao
homem da forma mais exterior e leviana, como algo que pode ser facilmente
comprado.
345.
A subjetividade, a verdadeira espiritualidade – Cristo – de forma alguma está
presente e é real de forma exterior, mas é alcançado com o próprio espiritual
na conciliação com Deus. O espírito de Cristo preenche realmente o coração
humano. Cristo não deve, portanto, ser considerado uma pessoa histórica, mas o
homem tem em si uma relação imediata no espírito.
Não existe diferença mais entre
sacerdote e leigo, não há mais uma classe que detenha exclusivamente o conteúdo
da verdade – essa subjetividade é de todos os homens.
346.
A subjetividade apodera-se agora do conteúdo objetivo, isto é, da doutrina da
igreja.
Na Igreja Luterana, a subjetividade e a
certeza do indivíduo são tão necessárias quanto a objetividade da verdade. Para
os luteranos, a verdade não é um objeto fabricado; é o próprio sujeito que deve
se tornar verdadeiro, ao desistir de seu conteúdo particular em troca da
verdade substancial e apropriar-se dessa verdade. Dessa forma, o espírito
subjetivo torna-se livre na verdade, nega a sua particularidade e em sua
verdade chega a si mesmo. Assim, a liberdade cristã se tornou real.
Até a cultura pertence à forma; a
cultura é a confirmação da forma universal, e isso é o próprio pensamento. O
direito, a propriedade, a moralidade objetiva, o governo, a constituição, entre
outras coisas, têm agora que ser determinadas de maneira universal para que
sejam adequados e razoáveis ao conceito da livre vontade.
Estados e leis não são mais do que o
surgimento da religião nas relações da realidade.
Este é o conteúdo essencial da Reforma:
o homem está determinado por si mesmo a ser livre.
347. Cada um deve instruir-se com a Bíblia e cada
um pode então determinar a sua consciência.
As Igrejas se tornaram partidos
antagônicos... Nos países não-católicos, os conventos e os bispados foram
suprimidos, e o direito de propriedade dos mesmos não foi reconhecido. O ensino
foi reorganizado, os jejuns e os dias santos abolidos. Assim também existiu uma
reforma temporal – uma mudança alterando o estado das coisas fora das relações
eclesiásticas.
Em muitos lugares houve rebeliões... Os
agricultores rebelaram-se em massa para se libertar do jugo da servidão.
348.
A
Reforma surgiu na Alemanha e só foi compreendida pelos povos realmente
germânicos. As nações latinas e eslavas mantiveram-se afastadas.
Existem certos princípios fundamentais
que os homens se habituam a receber em função da autoridade; assim, em muitos
países, também a autoridade decidia pela aceitação ou não da Reforma.
349.
A pura interioridade da nação germânica foi o verdadeiro solo para a libertação
do espírito, e as nações latinas, ao contrario, conservaram no mais profundo da
alma, na consciência do espírito, a desunião: elas surgiram da mistura do
sangue latino e germânico, e ainda conservam em si essa heterogeneidade.
O desenvolvimento e o progresso do
espírito a partir da Reforma consiste em que, procedendo sua liberdade da
intermediação entre o homem e Deus, o espírito está consciente da certeza do
processo objetivo, como o próprio ser 350.divino,
compreendendo o agora e realizando-o na formação temporal. Foi pela
reconciliação conquistada que se deu a consciência de que o temporal é capaz de
possuir o verdadeiro em si, o que era tido como a maldade do temporal, incapaz
da bondade que permanecer no além.
Disso se segue que o casamento não mais
possui o celibato acima de si...
O homem entra para a coletividade por
intermédio da família; para a relação de interdependência na sociedade essa
relação é de caráter moral.
Não trabalhar deixou de ser considerado
como algo santificado; passou-se a reconhecer como sublime o homem se fazer
independente por meio da atividade, da inteligência e da diligência.
A indústria, os ofícios e os negócios tornaram-se
morais, e os obstáculos impostos pela Igreja desapareceram.
A obediência tornou-se um princípio
perante as leis estatais, da razão, do querer e do fazer... Com isso,
colocou-se a possibilidade de um desenvolvimento e a introdução da razão e da liberdade
– a razão e os mandamentos divinos são agora sinônimos.
351.
O que é justo tem que ser encontrado no pensamento.
A reconciliação deve dar-se primeiro no
sujeito como tal; em sua sensibilidade consciente.
O homem não é por natureza o que deveria
ser; ele só alcança a verdade por meio do processo de transformação.
Foi exigido que o verdadeiro sujeito se
conscientizasse daquilo que ele é em si, isto é, quis a dogmática que o homem
soubesse que é mau. Mas o indivíduo só é mau quando o natural na cobiça
sensível, a vontade inabalável, inculta e brutal da injustiça, torna-se real.
352.
A
nova consciência da subjetividade do homem, da interioridade de sua vontade
trouxe a crença na maldade como um imenso poder da temporalidade. Essa crença é
paralela ao perdão: assim como se podia comprar a bem aventurança eterna,
acreditava-se então que se pudesse comprar, por um trato feito com o Diabo, a
bem aventurança e os impérios do mundo e do poder para cobiças e paixões.
Assim, da crença desse poder, cujos domínios são o mundo, o Diabo e sua
astúcia, surgiu uma quantidade imensa de julgamentos pro bruxaria... , mas a
base para esses processos era só a crença em que as pessoas praticavam o poder
do mal. Foi como uma terrível peste quer assolou os povos, principalmente do
século XV. O principal motivo era a suspeita, que surgiu da mesma forma no
domínio imperial romano e no domínio ditatorial de Robespierre, onde a atitude
moral era castigada.
353.
No que tange à formação do Estado, vemos inicialmente a monarquia solidificar-se
e os monarcas revestirem-se do poder estatal.
Infinitamente importante é essa forma de
direito privado que constituía os elementos do poder estatal. Em seu ápice
estava este fator fixo e positivo: só uma família existe como dinastia
reinante; a sucessão de reis é determinada pelo direito de hereditariedade, ou
seja, pela linhagem da primogenitura. O Estado concentra o seu núcleo
irremovível.
O Estado precisa ter uma última vontade
decisiva; mas se um indivíduo deve ser considerado o poder decisório final, ele
o deve ser de forma determinada e natural e não por escolha, opinião ou método
deste gênero
Os domínios não pertenciam a um único
senhor, mas à família como fideicomissos, e as classes tinham a garantia, pois deviam manter a unidade. Dessa
forma, o principado perdeu o sentido de propriedade particular, de posses de
bens e domínios, de jurisdição, etc., passando a ser propriedade e assunto
estatal.
Igualmente importante – e disso resultante
– é a transformação das formas, negócios, deveres e direitos, que por conceito
fazem parte do Estado, e que se tornam propriedade privada e compromisso
particular na posse estatal. Os direitos dos dinastas e barões foram anulados,
e eles tiveram que se contentar com funções estatais.
354. O advento dos exércitos é muito
importante, pois eles dão à monarquia um poder independente
A inquisição fortaleceu o despotismo dos
reis, estava acima de bispos e arcebispos e podia submetê-los ao tribunal. A
inquisição era um tribunal de suspeita, e já que exercia um enorme poder sobre
o clero, tinha o seu verdadeiro apoio no orgulho nacional.
O principal interesse era que os
direitos privados dos dinastas fossem diminuídos e transformados em deveres
perante o Estado. Esse interesse partia tanto dos reis como do povo.
355. A aristocracia da época é contra o
poder estatal e contra os indivíduos. Mas a aristocracia deve cumprir o seu
dever de ser o suporte do trono, trabalhando para o Estado e para o universal,
e agindo como suporte da liberdade dos cidadãos. Essa é, justamente, a
prioridade do centro de ligação: que ele assuma o conhecimento e a confirmação
do razoável e do universal em si; e esse conhecimento, essa ação do universal
têm que surgir no lugar do direito positivo pessoal.
O
objetivo das guerras é sempre o de conquista.
Racionalidade – sublime unidade do
pensamento
356. Das guerras entre as forças estatais surgiram
interesses comuns, e o objetivo dessa comunhão de interesses era manter a
particularidade, conservar os principais Estados independentes – na verdade, o
equilíbrio político.
A ligação dos Estados como instrumentos
para protegê-los das arbitrariedades dos poderosos, o objetivo do equilíbrio,
ocupou então lugar do antigo fim universal, de uma cristandade cujo centro
seria o papa.
A política diplomática tornou-se, na
Itália, altamente sofisticada, e de lá se espalhou pela Europa.
357.
Súditos de príncipes católicos tornaram-se protestantes, reivindicaram bens da
Igreja, alteraram a natureza da posse e abstiveram-se do culto, renegando os
emolumentos ( jurastolae)
Sem guerras, a existência dos
protestantes não poderia ser assegurada, pois no se tratava da consciência como
tal, mas das propriedades políticas e particulares que haviam sido tomadas da
Igreja, as quais ela reclama.
358.
Com poucas exceções, todos os poderes da Europa precipitaram-se para a
Alemanha, para onde eles fluíam como uma fonte, da qual eles então partiam e na
qual se deveria agora obter o direito da interioridade religiosa e da separação
interior. A luta termina sem que se tenha adquirido uma idéia, um princípio
como pensamento, no cansaço geral em que todas as forças se esgotaram e no mero
deixar acontecer e existir das partes, sob a base do poder exterior. A saída
agora é somente política.
Deve-se observar que para a segurança dos governos, os príncipes
valorizavam a religião católica, em especial quando a Inquisição estava ligada
ao governo. Essa segurança, porém reside na obediência servil e religiosa e só
existe quando a constituição e todo o direito estatal se baseiam na propriedade
positiva; mas quando a constituição e as leias dever ser constituídas pelo
direito realmente eterno então a segurança só existe na religião protestante,
em cujo princípio se manifesta também a liberdade subjetiva da racionalidade.
359. O resultado da luta foi, portanto,
a existência estabelecida politicamente e pela força de partidos religiosos
convivendo como Estados políticos e segundo as relações positivas do direito
estatal e privado.
360.
A universalidade é a profundeza do espírito e a força consciente do
pensamento.
O iluminismo e a Revolução
Na religião protestante, o principio da
interioridade surgiu com a liberdade religiosa e a satisfação em si mesmo e,
com isso, também a crença nessa interioridade representando o mal e o poder
temporal. Também na igreja católica, a casuística jesuíta introduziu infinitas
pesquisas mais abrangentes e refinadas que as da teologia escolástica, acerca
da fonte interior da vontade e dos motivos da mesma. Nesta dialética, que fazia
todo o particular vacilante, onde o mal foi transformado em bem e o bem em mal,
nada restou a não ser a pura atividade da própria interioridade, o abstrato do
espírito, ou seja, o pensamento. O pensamento considera tudo em forma de
universalidade e, por isso, é a atividade e produção do universal.
361.
O homem não é livre se não pensa, apenas mantém com o mundo à sua volta uma
relação com outra forma de ser.
A razão é o fundamento substancial tanto
da consciência como do exterior e do natural. Desse modo, o outro diante de si
não é mais o além, não tem outra natureza substancial.
A experiência tornou-se a ciência do
mundo, pois ela é por um lado a percepção, mas também o descobrimento da lei,
do interior, da força, ao devolver o existente à sua simplicidade.
Contra a fé na autoridade foi imposto o
domínio do sujeito por si mesmo.
362.
O homem é livre por meio do conhecimento da natureza.
Às determinações universais, baseadas na
consciência presente, nas leis da natureza e em seu conteúdo que é justo e bom,
chamou-se de razão. À validade destas leis chamou-se iluminismo.
363.
O que é justo e moral e pertence à vontade essencial, em si existente, em si
universal, e para se saber o que realmente é justo é preciso se abstrair da
simpatia, instinto, ânsia, assim como do particular. Portanto é preciso saber o
que é a vontade em si. A vontade que se quer é a razão de todo direito, de todo
dever e, assim, de todas as leis jurídicas, de todos os mandamentos e de todas
as ligações impostas. A liberdade da própria vontade é, como tal, o princípio e
fundamento substancial de todo direito – ela é em si absoluta; é, em si e por
si, o eterno direito inerente em comparação a outros direitos especiais, e é o
que torna o homem um homem; é, portanto, o princípio fundamental do espírito.
Cita Kant – Para ele, a simples unidade
da autoconsciência, o eu, é a liberdade inabalável, pura e simplesmente
independente, e a fonte de todas as determinações universais do pensamento – a
razão teórica e, do mesmo modo, a mais sublime de todas as determinações
práticas - a razão prática como vontade livre e pura.
364.
O direito natural é a liberdade, e a sua outra determinação é a igualdade dos
direitos perante a lei. Uma relação direta manifesta-se aqui, já que a
igualdade vem da comparação de muitos, e esses muitos são justamente pessoas
cuja determinação básica é a mesma, ou seja, a liberdade. Esse princípio
permaneceu forma porque surgiu do pensamento abstrato, do entendimento que é,
inicialmente, autoconsciência da razão pura, imediata e abstrata.
A vontade só é tida como honrada quando
almeja sabiamente o direito, a justiça e o bem-estar de todos.
365.
O Estado, como agregado de muitos isolados, não é, a rigor, uma unidade
substancial em si e por si, nem uma verdade do direito que deve ser adequada à
vontade das pessoas isoladas para ser realmente uma vontade livre, mas parte de
átomos da vontade, e toda vontade é apresentada imediatamente como absoluta.
Com isso foi encontrado um princípio
intelectual, para servir de base ao Estado, que não é mais um princípio
qualquer da opinião – como ímpeto da sociabilidade, a necessidade de segurança
da propriedade, etc – nem o da religiosidade – como a instituição divina da
autoridade -, mas é o principio da certeza, a identidade com a minha
autoconsciência, ainda que não seja o principio da verdade, que seve ser diferenciado
dele... A consciência espiritual é essencialmente o fundamento e por isso a
filosofia tornou-se dominante. Diz-se que a Revolução Francesa partiu da
filosofia, e não foi sem fundamento que se denominou a filosofia sabedoria
universal, pois ela não é somente a verdade em si, como pura substancialidade,
mas também a verdade em sua forma viva na universalidade. Mas essa filosofia é
só pensamento abstrato, não é compreensão concreta da verdade absoluta, o que
constitui imensa diferença.
O novo espírito começou a agitar as
mentes dos homens, e a opressão levou-os à investigação. Descobriu-se então que
as quantias extorquidas do povo não eram utilizadas no aprimoramento do Estado,
mas gastas da forma mais absurda. A mudança foi necessariamente violenta porque
a transformação não partiu
366.
do governo, porque a corte, o clero, a nobreza e o parlamento não queriam
abdicar de seus privilégios, nem por necessidade, nem pelo direito em si; além
disso, o governo, como centro concreto do poder estatal, não podia tomar os
desejos individuais como principio e a partir deles reconstruir o Estado;
finalmente, pelo fato de o governo ser católico, e em função disso, não
prevalecer o conceito da liberdade e da razão das leis como último e absoluto
compromisso.
A liberdade apresenta dois aspectos: um
diz respeito ao seu conteúdo e propósito, a objetividade, a coisa em si; o
outro é a forma de liberdade, o sujeito sabe-se atuante, pois a liberdade
pressupõe que o sujeito s se saiba dentro dela e que faça a sua parte, pois é
de seu interesse que ela se concretize.
3 Momentos e Poderes do Estado
(a)
As leis da racionalidade e do
direito em si, a liberdade objetiva ou real – aqui se encontram a liberdade da
propriedade e a liberdade da pessoa.
Além disso, faz parte da verdadeira
liberdade a liberdade de trabalho, ou seja, é permitido ao homem usar como
queira as suas forças. Está presente aqui também o livre acesso a todas as
instituições estatais. Estes são os momentos da verdadeira liberdade, que não
se baseiam em sentimentos – pois o sentimento permite a existência da servidão
e da escravidão – e sim no pensamento e na autoconsciência do homem de sua
essência espiritual.
367.(b)A
atividade concreta das leis é o governo. Inicialmente ele é o exercício formal
das leis, e cuida da manutenção delas. Ele persegue o fim estatal de manter a
autonomia das nações em sua individualidade perante outras... Ele também deve
obter lucro.
No Estado há um elemento universal em
atividade.
Os poucos devem representar os muitos...
O domínio da maioria sobre a minoria é inconseqüente.
(c)
a colisão de vontades subjetivas conduz ao terceiro momento – da tomada de
decisões – que é o querer interior das leis, não só do costume, mas a
conscientização de que as leis e a própria constituição seriam algo sólido, e
que o mais sublime dever do indivíduo seria subjugar as vontades particulares.
A sabedoria fundamental indica-nos que
se devem separar totalmente as leis estatais e a constituição da religião.
369.
A vontade universal deve também ser a empiricamente universal – os indivíduos
devem, como tal, governar ou, pelo menos, participar do governo.
370. Revolução Francesa em conexão com a história
do mundo: O liberalismo dominou de modo especial todas as nações latinas
(França, Itália e Espanha), mas por toda parte ele fracassou.
As nações protestantes, defrontaram-se
contra as latinas.
371.
A Inglaterra manteve-se, com muito esforço, em seus antigos fundamentos.
A constituição inglesa resistiu. O
governo é essencialmente administrativo; considera o interesse de todas as
estirpes e classes, e a Igreja, as comunidade, os condados e as sociedades
cuidam de si mesmas, de modo que em nenhum lugar o governo tem tão poucas
atribuições como na Inglaterra. É exatamente isso que os ingleses chamam de
liberdade, o contrario da centralização da administração francesa, onde até o
menos alcaide é designado pelo ministério ou por seus funcionários... O
interesse geral é, desta forma, concreto; e o particular sabe-se aqui incluído
e desejado.
372.
A existência material na Inglaterra baseia-se no comércio e na indústria, e os
ingleses assumiram a grande tarefa de ser os missionários da civilização em
todo o mundo, pois seu espírito comercial impulsiona-os a revistar todos os
mares e todos os países, a ter ligações com povos bárbaros, a despertar neles
necessidades e atividades e, principalmente, a estabelecer, entre eles, as
condições para o comércio: a abolição das violências e o respeito perante as
propriedades e a hospitalidade.
373.
A história universal nada mais é que o desenvolvimento do conceito de
liberdade. Todavia, a liberdade objetiva – as leis da liberdade real – exige a
submissão da vontade em si mesma, a visão da razão tem que lhe corresponder, e
assim existe também o momento essencial da liberdade objetiva.
A filosofia diz respeito ao esplendor da
idéia que se reflete na história universal. Seu interesse é conhecer o processo
de desenvolvimento da verdadeira idéia, ou seja, da idéia da liberdade que é
somente a consciência da liberdade. A história universal é o processo desse
desenvolvimento e do devenir real do espírito no palco mutável dos
acontecimentos.
REFERÊNCIA
BIBLIOGRÁFICA
HEGEL, Georg W. F. Filosofia da
História. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008.
[1]
A “(...) a história universal é a representação do espírito no esforço de
elaborar o conhecimento de que ele é em si mesmo. E, como a semente carrega em
si toda a natureza da árvore, o sabor e a forma dos frutos, assim os primeiros
traços do espírito já contém também, virtualmente toda a história (...) a história universal é o progresso na
consciência da liberdade – um progresso cuja necessidade temos de
reconhecer” (p. 24- 25). Esse ponto gera algumas questões importante ao debate
de Hegel: Há um fim da história ou
Hegel fala dele, pois o fim da história é o próprio tempo moderno? (Ou seja, a
modernidade é o fim da História ou esse fim está em aberto?).
Metodologicamente, a questão da filosofia como perspectiva da totalidade que
apresenta o percurso do Espírito a partir de como aparece na história
(fenômeno).
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